sexta-feira, 1 de outubro de 2010

beleza

na preparatória havia uma rapariga na minha turma que era o estereótipo de rapariga muito bonita. era, de facto, lindíssima, e achava que isso era mais que suficiente para ter tudo o que queria na vida. os pais davam-lhe tudo o que ela pedia, porque era filha deles, filha única e tão bonita, quase ninguém conseguiria resistir aos seus pedidos. infelizmente, para ela, era estúpida que nem uma porta.
talvez por pena os professores achavam que ela merecia passar, mesmo não demonstrando qualquer esforço para tal, coitada temos de lhe dar uma oportunidade, uma miúda tão bonita atrasada em relação às colegas não está certo!
pois é, e assim lá se safou até ao fim do secundário, valha-nos deus.
tinha sonhos de entrar na faculdade. sonhos. desistiu na 4ª ou 5ª tentativa.
há uns anos que já não a via, nem sequer me lembrei mais dela. hoje encontrei-a no autocarro quando ia a caminho do meu trabalho. falamos um pouco sobre as nossas vidas. perguntei-lhe o que estava a fazer e ela disse-me que estava à procura de trabalho. curiosa como sou questionei-a sobre a experiência dela, em que sítios já tinha trabalhado, etc. ao que ela me disse meio envergonhada que já tinha passado pelos mais variados sítios (supermercados, lojas de roupa, de electrodomésticos, etc., etc.....) mas sem sucesso. não aguentava mais de um mês, acabava por ser despedida por não perceber nada do "assunto", não consegui encaixar em nada.
perguntei-lhe em que ela gostaria de trabalhar, «ah, eu gostava mesmo era de ser médica. das criancinhas!»
senti medo, muito medo.

as pessoas usam a beleza para tudo. acham que é suficiente para fazerem o que quiserem na vida. acham que lhes dá dinheiro, uma relação estável, uma vida feliz.
não é triste usar a beleza, triste é pensar que isso é tudo.

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